segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

TOADA COMENTADA: FILHOS DA MUNDURUKÂNIA - CAPRICHOSO 2012


TOADA COMENTADA: FILHO DA MUNDURUKANIA (César Mores)



Sou parintintin sou tupinambá.
Eu sou filho da mata, eu sou filho do sol
Nativo dos Andes, eu sou da floresta.
Sou boi-bumbá...
Sou festa de boi, sou desse lugar.
Tem peixe muqueado, tem o tacacá,
Arraial, Pastorinha e o Boi Caprichoso
Sou da grande mundurukania,
Minhas penas repousam aqui.
Tapajós, Andirá, Rio Madeira, Amazônia, meu chão é Brasil.
Empunhando os arcos e flechas
Todos pintados prá guerra, cantam os guerreiros Tupis:
Heira, heira, heira, hei – 9 vezes
E o meu boi caprichoso, bonito cercado de lanças.
Marujada de guerra não cansa.
E a galera cantando de pé,
Todas as tribos avançam na trilha das matas,
Seguem o caminho das águas na magia do grande Pajé
Dança aos som dos tambores caboclo de fé
Baila morena faceira, nativa mulher...
Brinca meu boi caprichoso, mostra quem tu és.
Heira, Heira Heira, Hei – 9 vezes
É FESTA DE BOI.....
 CAPRICHOSO É MEU BOI-BUMBÁ!!!!!!



Letra e Música belíssima do poeta consagrado do boi Caprichoso CESAR MORAES com forte percurssão e sonoridade que lembram os tambores Afros do Tambor de Crioula e os demais ritmos africanos, essa toada é também na minha opinião a mais PLURAL EM TERMOS DE MISTURA DE RITMOS, pois a mesma contempla também a toada com elementos caboclos e indígenas de uma dimensão tamanha onde o poeta fala sempre na primeira pessoa do singular COM MUITO ORGULHO DE SUA ORIGEM TRIBAL.


O titulo da toada nos remonta a uma toada de muito sucesso de nome MUNDURUKANIA gravada pelo também Parintinense KLINGER ARAÚJO., de grande sucesso na região e gravada pela Banda Carrapicho. 


Essa é uma das vantagens da massificação das toadas porque não existe talvez um Amazonense que não tenha ouvido falar em Mundurukânia e se familiarizado com essa terminologia sendo certo que ao ouvir nos meios de comunicação o termo vira familiar contribuindo com a apropriação de um termo ligado à sua cultura.


Registro aqui a afirmação dos Folcloristas que já julgaram o Festival afirmando que os elementos da cultura de massa (como é o caso da massificação das toadas) e do folclore existentes no Festival Folclórico de Parintins são ótimos na sua interação, pois estes afirmam categoricamente que O FESTIVAL TEM ELEMENTOS DA CULTURA DE MASSA E DO FOLCLORE.



Somos sabedores que o Parintinense tem orgulho de ter nascido nessa região onde os índios saiam do Rio Madeira ao Rio Tapajós guerreando e tomando as mulheres de outras Tribos., eram conhecidos como índios Guerreiros e deixaram grandes marcas nessa beira de rio, marcas que o boi de Parintins faz questão de registrar pedagogicamente nas suas apresentações., eram várias TRIBOS DE INDIOS MUNDURUKUS, CRICHANÃS, SATERÉ, MAWE, SAPUPÉ, PARINTINTIN, TUPINAMBÁ e outras denominações que dominavam essa região da Mundurukania sendo a Ilha de Parintins privilegiada ao ser o berço de pelo menos 12 Grupos de Tribos segundo o PARINTINÓLOGO TONZINHO SAUNIER em um de seus livros ao qual não me recordo o nome.


Ao afirmar: SOU PARINTINTIN, SOU TUPINAMBÁ, o autor resgata a identidade do povo Parintinense ao afirmar taxativamente a sua origem e orgulhosamente afirma que além disso é FILHO DA MATA porque a mata pro caboclo é a sua morada, é dela que o índio e o caboclo tira o seu alimento, a sua sobrevivência, é nela que ele convive com os mitos, as supertições, alimenta sua alma, alimenta o seu corpo e interage com os mistérios da floresta.



SER FILHO DO SOL é uma expressão que busca mais ainda a identidade Amazonica do caboclo de Parintins que busca essa terminologia usada muito no FESTIVAL para identificar os INCAS e a Amazonia INCA especificamente na fronteira do Amazonas frenteira com o PERÚ onde o RIO AMAZONAS NASCE NA CORDILHEIRA DOS ANDES.



OS ANDES, onde nasce o RIO AMAZONAS é fonte de inspiração e de alimentação pro povo caboclo, por isso que o poeta fala que é NATIVO DOS ANDES e que este É DA FLORESTA., tanto faz da floresta Brasileira quanto da floresta Amazonica Andina no Peru.



Observe que ao final a primeira parte da música o poeta afirma: SOU BOI-BUMBÁ!!!! isso porque o BOI DE PARINTINS É O CARRO CHEFE DE TODOS OS COSTUMES DO POVO DE PARINTINS, DA AMAZONIA, É NESSA FACÇÃO FANTÁSTICA CHAMADA BOI-BUMBÁ CAPRICHOSO QUE COLOCAMOS PRA FORA NOSSA AMAZONIDADE, NOSSA CABOQUICE, NOSSOS COSTUMES, NOSSAS CRENÇAS, NOSSSA LINGUAGEM CABOCLA, NOSSO AMOR PELO ARTESANATO, PELA LINGUAGEM DE MINORIA, PELA INDIA, PELO INDIO, PELAS NOSSAS IGUARIAS GASTRONÔMICAS E ATRAVÉS DO BOI-BUMBÁ CONSEGUIMOS FAZER ECOAR UM GRITO DE RESPEITO POR TODOS, PELOS POVOS DA FLORESTA E PELA BIODIVERSIDADE.



Na festa de boi não pode faltar o peixe que é a alimentação básica do Parintinense juntamente com o TACACÁ, daí o porque do poeta falar que é festa de boi, tem PEIXE MUQUEADO, TEM O TACACÁ, sendo que o tacacá do Parintinense tem um ingrediente a mais: a cebolinha. Assim, o parintinense se orgulha de ter o tacacá mais saboroso da região sendo que ao meio-dia as bancas de tacacá invadem as ruas de Parintins para alimentar esse povo do JAMBÚ, DO TUCUPI, DA GOMA, DA CEBOLINHA E DO CAMARÃO SECO.,


O peixe como já falamos é farto na cidade sendo o responsável pela alimentação básica do Parintinense e responsável pelo desenvolvimento da inteligência desse povo que tem um dos menores índices de analfabetimos do Brasil, bem como ao alimentar-se da cabeça do peixe sem deixar nada de sobra, especialmente cabeça de pirarucu o qual o caboclo Parintinense se orgulha de não faltar testosterona pra si, tornando-se viril tendo em vista que é comprovado cientificamente que a cabeça de peixe é rica em TESTOSTERONA.



Os arraiás de Parintins, nas Igrejas de São Benefito, Sagrado Coração e demais Igrejas são bastante animados, mas o ARRAIAL DA PADROREIRA NOSSA SENHORA DO CARMO é um dos mais festejados pelo povo que tem na sua religiosidade algo muito forte e impregnado na sua cultura adquirida pela Catequese e pelo apoio da Igreja que impulsionou o Festival com a JAC (JUVENTUDE ALEGRE CATÓLICA) que organizou o primeiro festival.


Assim sendo quando o autor fala em ARRAIAL, PASTORINHA., há que ser frisada a partcicipação da Igreja que sempre apoiou as festas folclóricas e culturais como forma de Evangelização e Socialização e que foi se incorporando ao dia-a-dia da cultura desse povo que inculturou um comportamento invejável em termos de cultura popular estando no seu jeito caboclo de folclorear por meio do Boi, especificamente o Boi Caprichoso.



O Parintinense tem orgulho de afirmar: SOU DA GRANDE MUNDURUCÂNIA! conforme já falado, essa região vai DO RIO MADEIRA AO RIO TAPAJÓS onde muitas PENAS, muitos restos mortais dos indígenas se encontram sepultadas na beira do rio, nesse solo sagrado que foi profanado pelo invasor e que em pesquisas arqueológicas sempre são encontradas riquezas tanto na arte da cerâmica ou nos ossos de indígenas sepultados na beira do rio.,

Quando o autor fala: MINHAS PENAS REPOUSAM AQUI! ele quer afirmar a presença de nossos ancestrais nessa beira de rio e implora para que esse chão não seja vilipendiado, não seja profanado, mas que seja respeitado pelo homem branco.

Em seguida o Autor cita nome de rios como TAPAJÓS, ANDIRÁ, MADEIRA, AMAZÔNIA, MEU CHÃO É BRASIL!., assim o autor desperta o povo brasileiro para dizer que TEMOS O ORGULHO DE DIZER PRO BRASIL QUE ESSE CHÃO É BRASILEIRO e que deve ser preservado e respeitado como cultura, ser respeitado também como povo brasileiro. Os indígenas tem orgulho de seu país apesar de toda a falta de respeito de nossas autridades pela falta de uma política pública capaz de dar-lhes amplo acesso á cidadania.



Mais adiante o autor nos diz que festa de boi é assim: EMPUNHA-SE ARCOS E FLECHAS E TODOS PREPARADOS PRÁ GUERRA, aqui ele destaca a força do arco e da flecha que está presente na festa dos tupinambás., que pode ser representada pela beleza cabocla da india guerreira que está sempre relembranda nas lendas., como a beleza da tribo das guerreiras Amazonas encontradas por Orellana em sua expedição pelo Rio Amazonas., INDIAS E INDIOS GUERREIROS que fazem do Parintinense um povo lutador, um povo que faz da sua cultura o seu carro chefe, um povo que quer ser feliz, um povo que busca contribuir para uma IDENTIDADE NACIONAL.



Esse povo GUERREIRO FAZ A FESTA DO LUGAR E ESTÁ SEMPRE APOSTO PRÁ LUTA PRA DEFENDER O SEU CHÃO, OS SEUS COSTUMES, SUA TERRA, SUA IDENTIDADE CABOCLA. É a força do povo tupi que sobressai do inconsciente cultural desse povo. Por isso o autor finaliza essa parte falando canta GUERREIRO TUPI, PORQUE sua dança é tambem um CANTO DE LUTA., UM CANTO DE GUERRA ECOADO DE MANEIRA BASTANTE FORTE E OUVIDO POR TODOS OS POVOS DA FLORESTA QUE A CADA DIA ECOA UM CANTO NOVO EM RESPEITO AOS COSTUMES, TRADIÇÕES E DIFERENTES CULTURAS DESSA GIGANTE TRIBO QUE É O NOSSO BRASIL DESCENDENTE NA SUA MAIORIA DO TRONCO TUPI, COMO: HEIRA, HEIRA, HEIRA, HEIRA, HEIA...



Essa guerra coloca como grande comandante, o BOI CAPRICHOSO que vem super protegido pelos vaqueiros (homens montados a cavalo segurandos as lanças com fitas) que protegem o boi, cortejam o boi amado da fazenda de qualquer risco que possa correr. Os vaqueiros com suas lanças trazem no seu topo a estrela, símbolo maior do Caprichoso com cavalos celados e o boi como figura central da vaqueirada vem bailando com a proteção desse caboclos PESCADORES, JUTICULTORES, MATEIROS, CAÇADORES, pessoas simples que trabalham no beiradão, mas que fazem questão de proteger o seu boi dançando na vaqueirada.



A INCANSÁVEL MARUJADA toca pro seu boi que vem cortejado pela vaqueirada tocando a melhor toada pro seu boi brincar, baliar como diz o Parintinense., por isso que o Autor fala inteligentemente E O MEU BOI CAPRICHOSO CERCADO DE LANÇAS, MARUJADA DE GUERRA NÃO CANSA., sendo assim, a Marujada que é o nome oficial dos instrumentistas do boi Caprichoso, que recebeu este nome devido os Marujos que aportavam o porto de Parintins, estes se transformam em pessoas guerreiras, conhecida como MARUJADA DE GUERRA porque está sempre preparado pra guerrear contra o CONTRÁRIO, bem como está pronto pra guerra como os índios Tupis.



Cesar Moraes cita A GALERA CANTANDO DE PÉ porque a Galera do Caprichoso que é Campeã e faz de tudo para ver o seu boi cortejado pelos vaqueiros, bailando, brincando e dançando com a MARUJADA, é o momento em que parte do CONJUNTO FOLCLÓRICO SE JUNTA PARA GUERRERAR, PARA MOSTRAR PRO CONTRÁRIO QUE O CAPRICHOSO NÃO É DE BRINCADEIRA, QUE O CAPRICHOSO ASSIM COM OS MUNDURUKUS ESTÁ PRONTO PRA GUERRA E VENCER PORQUE SUA GALERA É DE FÉ E ESPERA POR MAIS DE 12 HORAS NA FILA PRÁ BRINCAR E GRITAR PELO SEU BUMBÁ E DIZER QUE ESTE É A VERDADEIRA CULTURA POPULAR DE PARINTINS.



O autor esclarece que é nesse momento tambem que todas as tribos guerreiras adentram na mata. Sae-se que as tribos do Caprichoso sempre foram as melhores do Festival trazendo toda e essência dos povos indígenas da floresta, em especial dos povos da MUNDURUCANIA., Se os índios não entram fisicamente hoje, com certeza eles se manifestam espiritualmente no espirito da mata protegendo o povo de Parintins especialmente o povo do Caprichoso., eles seguem as trilhas da matas que só eles conhecem, só os caboclos conhecem essas trilhas sem nenhuma sinalização porque a mata é a sua morada, é o seu habitat natural., os caboclos e índios adentram as trilhas sem medo de encontrar a ONÇA, A SUCURIJU, A TAPIRAUARA, O NEGRINHO DO CAMPO GRANDE, A DONA AURORA, OS MITOS E AS SUPERTIÇOES DA FLORESTA.



Segundo Cesar Moraes, além de sguir a trilha das matas, os índios e caboclos seguem O CAMINHO DAS ÁGUAS NA MAGIA DO GRANDE PAJÉ ., esse caminho é abençoado para o caboclo, essa água barrenta do rio amazonas responsável pela fertilização desse solo e da fartura dois peixes., esse rio que É UMA PATRIA DAGUA PRO CABOCLO E QUE COMANDA A VIDA DO MESMO pois o rio é a estrada do caboclo, é no rio que o caboclo pesca pra levar a produção e vender nas cidades., o caboclo conhece essa trilha das águas sem a necessidade de um GPS ou BÚSSOLA porque faz parte do seu habitat natural sempre com a proteção de seu chefe espiritual: O PAJÉ!., ALÉM DA SABEDORIA DO CABOCLO REZADOR, BENZEDOR COM FORTE INFLUÊNCIA DESSA PAJELANÇA.



Ao final, Cesar Moares conclama OS CABOCLOS DE FÉ PARA DANÇAREM JUNTAMENTE COM OS INDIGENAS E OS PERSONAGENS DO BOI CAPRICHOSO, bem como conclama as mulheres nativas da região valorizando a mulher cabocla que tem grande participação na dança do boi-bumá chamando-a de morena faceira que pode ser A ESTANDARTE, A CUNHÃ-PORANGA, A SINHAZINHA, A RAINHA DO FOLCLORE, ENFIM TOADA AS INTEGRANTES DA BRINCADEIRA QUE DÃO UM BRILHO NO EVENTO PELA SUA BELEZA NÃO SÓ PLÁSTICA, MAS PELA SUA BELEZA CABOCLA ADQURIDA PELA SUA DANÇA, PELOS ALIMENTOS DA REGIÃO, PELA MEDICINA DOS PAJÉS, PELA MEDICINA POPULAR, PELAS ERVAS, CIPÓS E PELA RIQUEZA DA BIODIVERSIDADE AMAZONICA, TUDO ISSO PARA BAILAR JUNTO COM O BOI CAPRICHOSO QUE MOSTRA PRO MUNDO O QUE DE FATO ELE É, UM BOI INDIGENA, TRIBAL, UM BOI CABOCLO, UMA VERDADEIRA CULTURA POPULAR DA AMAZONIA QUE HOJE DESPERTA INTERESSE EM TODO O BRASIL!!!!!!!!!!!!!!!!


Elaborado por: SILVA, Arthur Cezar Ferreira, Amazonense, descendente de Parintinenses, Pedagogo, Professor Multidisciplinar do Ensino Municipal em Guarulhos/SP há 15 anos, Pós-graduado em Docência do Ensino Superior,. Advogado Militante em Guarulhos e São Paulo, Antropólogo Autodidata, Estudioso do Folclore e da Cultura Brasileira, possui pequenos textos publicados nos jornais do Município de Guarulhos como: A RELIGIOSIDADE DO POVO DE GUARULHOS, O HINO Á GUARULHOS, GURULHOS INDIGENA, GURULHOS FOLCLÓRICA, entrevistas em Jornais como: GAZETA MERCANTIL falando sobre o FESTIVAL DE PARINTINS/AM.

O texto pode ser publicado na sua integra ou partes desde que seja citado o autor.









































Nenhum comentário:

Postar um comentário