sábado, 14 de janeiro de 2012

A AUTENTICIDADE DE PARINTINS

ENCONTREI  UM BRILHANTE TEXTO NO SITE OVERMUNDO E QUE ESCLARECE A NOSSA FESTA DE MANEIRA BEM PEDAGÓGICA MOSTRANDO Á NOSSA FESTA NUMA VISÃO ANTROPOLÓGICA.

É NOTÓRIO QUE MUITOS FOLCLORISTAS NÃO SE CHEIRAM COM OS ANTROPÓLOGOS PORQUE DIZEM QUE OS PARADIGMAS DO FOLCLORE SÃO DIFERENTES DOS PARADIGMAS DA ANTROPOLOGIA.

EM PARINTINS, EM VISTA DA COMPLEXIDADE DA FESTA TRIBAL E FOLCLÓRICA, MAS COM UMA GAMA DE CULTURA E DE INFORMAÇÕES EXPLENDOROSA  HÁ DIVERGENCIA ENTRE FOLORISTAS E ANTROPÓLOGOS PORQUE OS FOLCLORISTA DIZEM QUE AS LENDA INDIGENAS NÃO SÃO FOLCLORE E QUE ESTE SÓ ACONTECE NA SOCIEDADE LETRADA E QUE O INDIO NÃO TEM ESPAÇO PRA INFORMALIDADE.

OCORRE QUE NA SOCIEDADE ATUAL, O INDIO JÁ TEM ESCOLA, VIVE TAMBEM NA INFORMALIDADE, DAÍ O INDIO TAMBÉM SER PORTADOR DO FOLCLORE TAL QUAL A SOCIEDADE BRANCA. DIZEM ALGUNS FOLCLORISTAS QUE COM ESSA MUDANÇA O FOLCLORE PASSA POR UMA CRISE DE PARADIGMAS INCLUSIVE COM O NEOFOLCLORE.

NÃO É PORQUE EU SOU FILHO DA TERRA NÃO, ATÉ PORQUE ENTENDO QUE SOU CREDENCIADO PRÁ FALAR DE NOSSA FESTA PORQUE CONHEÇO MUITO BEM. O AUTOR ENALTECE A NOSSA FESTA, FAZ COMENTÁRIOS CORRETOS E  COM CERTEZA ESTÁ CREDENCIADO PARA TECER TAIS COMENTÁRIOS.

A autenticidade de Parintins

Para quem é formado no âmbito das ciências humanas, é hora de lembrar das aulas de introdução à Antropologia para entender melhor o formato do Festival Folclórico de Parintins, e seus bumbás Caprichoso e Garantido, revivendo o conceito do olhar antropológico, onde o observador (aqui no caso, você internauta) precisa se distanciar dos próprios referenciais culturais e valores estabelecidos para ampliar sua percepção sobre outra cultura, evitando assim julgamentos comparativos incorretos.

Para quem não conhece o conceito, tente entendê-lo por meio de um exemplo clássico. Algumas etnias indígenas amazônicas costumam cremar seus mortos para misturarem suas cinzas ao mingau de banana, para enfim, comê-las. Essa cara feia que você acabou de fazer, deve-se ao fato de entendermos desde criança que, como cristãos, devemos enterrar os mortos e não degustá-los, mas se superarmos os nossos referenciais cristãos para pelo menos procurar saber porque estas etnias têm este hábito, podemos encontrar no relato de um dos seus membros algo como, “queremos guardar a lembrança, a força e a sabedoria de nossos entes queridos dentro de nós”. Você pode até não querer provar, mas vai entender melhor o significado do ritual além de perceber que, o inimaginável para eles, seria deixar pessoas queridas apodrecendo sob a terra para um banquete de vermes. Bem-vindo ao exercício do olhar antropológico.

Este mega-argumento introdutório serve de suporte para derrubarmos uma comparação comum, feita pela imprensa brasileira, que aborrece qualquer amazonense que já esteve em Parintins: afinal, para nós o Festival dos bumbás não tem nada a ver com o Carnaval do Rio de Janeiro, a não ser pela ótica das manifestações folclóricas que viraram espetáculo, mas tudo acaba por aí. O boi-bumbá parintinense é derivado do bumba-meu-boi do Maranhão e tem no princípio das encenações sua principal característica, ao contrário da apresentação linear dos desfiles das escolas de samba.

Na rivalidade materializada entre as cores azul, do boi-bumbá Caprichoso, contra o vermelho do boi-bumbá Garantido, o embate ocorre nas três noites do último final de semana de junho, o sorteio da ordem das apresentações é realizado na véspera do Festival e cada boi tem entre duas horas e duas horas e meia por noite para conquistar a preferência dos jurados e assegurar o título. São escolhidos nove jurados que devem ser, segundo regulamento, profissionais ou estudiosos ligados à música e ciências humanas com referencial teórico e trabalhos realizados nas manifestações folclóricas e culturais do país. Não podem ser da região Norte, à exceção do estado do Tocantins, e o mais curioso, utilizam obrigatoriamente caneta verde para o registro das notas - a rivalidade é tão extrema que a imparcialidade precisa estar aparente ao nível dos detalhes.

As apresentações de Caprichoso e Garantido exaltam além dos elementos folclóricos do Auto do Boi, a cultura, história e a riqueza amazônica, sua diversidade étnica e a divulgação do conceito da preservação ambiental por meio do uso sustentável dos seus recursos e biodiversidade. Para retratar tantos aspectos, os compositores de cada bumbá preparam anualmente até 20 toadas, os suportes musicais das encenações na arena do bumbódromo, compostas sobre temas pré-estabelecidos pelas respectivas comissões de arte.

Magia e emoção na arena

O Apresentador entra para o delírio da galera do respectivo boi-bumbá, este é o ato que marca o início da apresentação. Primeiro item individual em julgamento, ele é o grande mestre de cerimônia responsável por levantar o público e, como um guia, chama a atenção dos jurados para elementos relevantes do espetáculo. À esta altura, os torcedores da arquibancada do boi contrário já se encontram sentados e em silêncio.

Ao chamado do Apresentador, os ritmistas do boi –
Marujada de Guerra ou Batucada - também entram e se posicionam, a fantasia que caracteriza seus 350 componentes tem seu significado explicado para jurados e espectadores até o momento em que é chamado o Levantador de Toadas, novo delírio nas arquibancadas para receber aquele cuja voz vai conduzir o lirismo das músicas programadas para as três noites de apresentação. O Apresentador sempre se expressa com forte apelo emocional aumentando ainda mais a ansiedade de sua torcida, com nova explicação sobre os temas gerais que serão desenvolvidos pelo bumbá naquela noite, encerram-se os preparativos, a festa vai começar.

Caprichoso e Garantido possuem contagens tradicionais, e é em tom solene que os Apresentadores as iniciam, “é uuuuuuuuuuuuuum...”, para que a galera complemente das arquibancadas, “...dooooois, trêêêêêês e jáááaaááá!”. Comparando com a imagem de uma dinamite, chegamos naquele momento em que o fogo do pavio encontra o explosivo. O início dos ritmistas é o ponto de partida de um delírio coletivo, como um gol em final de Copa, a galera grita e pula, o Apresentador vibra e fogos de artifício tomam o céu. Um coro das arquibancadas logo passa a acompanhar o Levantador de Toadas que irrompe o alarde com a primeira canção da noite.

A farra criativa das surpresas

Nas alegorias é que Parintins evidencia sua grandiosidade e justifica as altas cifras de investimentos públicos e privados (na foto, perceba o tamanho das pessoas sobre parte da alegoria). Por noite, cada bumbá é obrigado a apresentar quatro grandes cenários, construídos em módulos que se completam na arena formando palcos gigantes de até 25m de altura. Neles são realizadas cada uma das encenações de Celebração Folclórica, Ritual Indígena,
Figura Típica Regional e Lenda Amazônica, todas previstas em regulamento como itens de competição.

Dependendo dos planos das comissões de arte, os módulos começam a ser posicionados logo depois da empolgação do início. A montagem do cenário acontece com a explicação do Apresentador apontando significados e detalhes até o início da dramatização. Como uma ópera monumental, pessoas caracterizadas dão vida ao cenário, e, no caso das encenações dos rituais indígenas, interagem com criaturas fantásticas e gigantes das alegorias que, em um dado momento, revelam movimentos e efeitos especiais cenográficos de acordo com a seqüência lógica da história contada na letra da toada.

Como o melhor do espetáculo, os cenários alegóricos não são definitivos, eles se transformam com engenhosas surpresas mecânicas conforme o roteiro. Por exemplo, da paisagem tranqüila de uma casa ribeirinha, uma cobra gigante pode aparecer rompendo o chão, afugentando caboclos e devorando pelo menos um caçador, caso o tema da encenação da Lenda Amazônica seja a
Cobra-Grande. Além desta, várias outra surpresas vão acontecendo sucessivamente, impressionando pela qualidade de movimentos e acabamento. Estes recursos também são utilizados para apresentação de alguns itens individuais, cujas aparições são precedidas de suspense e colocadas como centro das atenções pelo Apresentador. A galera que também é item de julgamento, participa ativamente de todo o espetáculo, reagindo a cada acontecimento com gritos, coreografias oníssonas ou empunhando os milhares de artefatos que são previamente distribuídos. O "clímax" nas arquibancadas está na chegada do protagonista do espetáculo, o boi, que, neste espírito das surpresas pode aparecer de qualquer lugar do bumbódromo ou das alegorias.

Espetáculo sem interrupções

Cada segundo é valioso na arena. Ao final de cada encenação, é necessário um tempo para a retirada dos módulos dos cenários. Enquanto isso ocorre, o Apresentador concentra a atenção dos jurados e do público para a dança de itens individuais femininos como Cunhã-Poranga, Rainha do Folclore, Porta Estandarte e Sinhazinha da Fazenda, ou para o Amo do Boi, com seus versos de exaltação ao bumbá ou elaboradas provocações ao adversário.

Dentro deste contexto da arena sem a presença das alegorias, destaca-se a apresentação das tribos indígenas, cuja exuberância das fantasias estilizadas simbolizam a riqueza de cada etnia. Os brincantes parintinenses assim caracterizados, desenvolvem coreografias exaustivamente ensaiadas com um deslumbrante efeito visual de conjunto. Aliás, toda a
celebração dos povos originários e formadores da cultura amazônica são feitas sempre sob o ponto de vista do oprimido. O índio tem a exaltação de seu modo de vida como autêntico, ao invés da idéia equivocada de sociedades em um suposto estágio evolutivo inferior (lembra do olhar?). O negro é lembrado pelas violências sofridas e contribuição cultural - como a própria existência do boi-bumbá na Amazônia - mas o branco, em seu papel, é sempre visto sob o estigma do invasor/repressor.

A apresentação do bumbá termina assim que a agremiação cumpre as quatro encenações previstas, além de todos os 20 itens de julgamento. Nas duas noites seguintes, acredite, nenhuma única pena se repete. É tudo novo e diferente, das indumentárias aos cenários.

Boi-Bumbá X Carnaval

É provável que ao final deste texto, que começou estabelecendo diferenças, muitos acabem reconhecendo ainda mais semelhanças entre as duas festas, mas entender o formato das apresentações de Parintins é o que realmente importa. Afinal, sem entrar no inexistente mérito de qual é melhor ou pior, tanto o Carnaval carioca quanto o folclore parintinense são manifestações culturais independentes, grandiosas e espetaculares que há alguns anos passaram a dialogar, seja no contingente de artistas da Ilha contratados por escolas de samba cariocas, extraindo de sua autenticidade criativa reconhecidas inovações alegóricas, assim como o conhecimento que estes caboclos trazem da apoteose do samba para o bumbódromo. Felizmente, de Norte a Sul, a beleza destes extremos da magnitude cultural da marca Brasil, agora se enriquecem.

Todos os aspectos que envolvem o Festival de Parintins não cabem em um relato, motivo para que a profundidade das lições desta Ilha incomum, pudesse tornar a vinda de cada cidadão brasileiro culturalmente obrigatória pelo menos uma vez na vida. Nossa meca cultural de brasilidade, onde anualmente milhares de turistas já resgatam, incorporam e vivenciam a verdade dos nossos referenciais formadores enquanto nação, uma arena de demolição de preconceitos pela emoção que pauta a festividade do início ao fim. Tente: Parintins só é difícil na primeira vez, impossível é não revisitar.


extraído do site http://www.overmundo.com.br/overblog/a-autenticidade-de-parintins

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