sábado, 14 de abril de 2012

"SEO" WALDIR E TONZINHO - PATRIMÔNIOS DA ILHA

SE FORMOS ENUMERAR AS PESSOAS E LUGARES QUE PODEM SER CONSIDERADOS PATRIMÔNIOS DA ILHA TUPINAMBARANA FAREMOS DE NOSSA POSTAGEM MA COLEÇÃO DE VÁRIOS LIVROS, PORQUE A ILHA É UM CELEIRO DE PRODUÇÃO CULTURAL. O MAIOR PROBLEMA DA ILHA, OU O MAIOR PECADO DA ILHA É QUE O TEMPO PASSOU E POUCO SE REGISTROU PARA QUE O PARINTINENSE TIVESSE A OPORTUNIDADE DE FAZER SUA MEMÓRIA. AINDA BEM QUE ESTAMOS EM PLENA ÉPOCA DE SISTEMATIZAÇÃO E SE FAZ NECESSÁRIA ESSA SISTEMATIZAÇÃO PARA QUE O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL SE POSSA REGISTRAR O QUE AINDA ESTÁ GUARDADO NA MEMÓRIA DESSE POVO, POIS DAQUI HÁ POUCO NADA MAIS SERÁ LEMBRADO EM VISTA DA VELOCIDADE DE INFORMAÇÕES.

ME EMOCIONO E LEMBRO DESSES 2 VULTOS HISTÓRICOS DA ILHA - O SEO WALDIR E TONZINHO SAUNIER, TANTO QUE TENHO REGISTROS DE AMBOS PORQUE ME EMPOLGAVA EM LER SOBRE ESTES, SUAS PARTICIPAÇÕES ATUANTES NA COMUNIDADE. PARECIA EM MINHA MENTE QUE UM DIA OS DOIS SERIAM LEMBRADOS E QUE SERIAM PARA SEMPRE IMPORTANTES NA HISTÓRIA E NA CULTURA DO POVO DE PARINTINS.

O CAPRICHOSO FEZ UMA BELA HOMENAGEM AO SEO WALDIR COM A TOADA MISSIONÁRIO DA LUZ:

MISSIONÁRIO DA LUZ
(Chico da Silva)

É ABENÇOADA A MÃO QUE CURA
ESSA VIDA LINDA VEM DE DEUS, 
MAS A CONVIVÊNCIA VEM DE NÓS
E PÁRA NÓS TAMBÉM OS CÉUS
TUDO DEUS CRIOU
FEZ ATÉ O HOMEM
DIVINO E PERFEITO E O ABENÇOOU

ALÔ, SEU WALDIR VIANA
O BEM, QUE DA ILHA EMANA
ANJO, AMIGO, ALMA PURA
MISSIONÁRIO DA LUZ
A FÉ CRISTALINA DO AMOR 
NOBREZA SUAVE DA FLOR
A MÃO QUE NOS CURA COM A FÉ DE JESUS

BOI CAPRICHOSO MANDOU
CANTAR PRO WALDIR A TOADA
AO SOM DA NOSSA MARUJADA 
POR TODOS AQUELES QUE ELE CRIOU - bis

O BOI CONTRÁRIO TAMBÉM HOMENAGEOU SEU WALDIR EM 2 TOADAS FAZENDO MENÇÃO AO MESMO: UMA DE TONY MEDEIROS QUE DIZ: O feitiço e a magia vem da Ilha, tá no sangue, tá na veia, tá na vida. Tá nas mãos de dona NEGA (a parteira) ou nos braços de Waldir Viana... 

OUTRA MENÇÃO ESTÁ NA LETRA DE ANA PAULA PERRONE E JORGE ARAGÃO: O que era só da Ilha Tupinambarana., que se apoiou na fé de seu Waldir Viana...

           ENCARTE DO SUPLEMENTO: A ILHA-1994 E FAZ PARTE DE MEU ACERVO CULTURAL


O LADO POETA DE SEU WALDIR

A Chula do Caturetê
(Waldir Viana - 1988)

Adeus Caturetê nunca mais quero te ver;
A saudade que eu tenho de ti a mesma tu há de ter; 
A recordação do passado bem difícil quero ter;
Poderei voltar, só se a sorte me proteger;

Adeus Caturetê lugar de tempestade;
Até logo Caturetê me perdoe a oportunidade ; 
Sofri como cão sem dono e nem deixei saudade;
Perdi minha paciência e também minha vaidade;

Adeus Caturetê me enganei com você; 
Pensei em salvar meu gado e lá fui perder;
Não podia andar no campo com tanto gado a feder;
Tive muito desgosto e vontade de morrer...

Em todo caso Caturetê, eu não posso esquecer;
Não sou mal agradecido e tenho que agradecer; 
Com tida tua ruindade eu posso dizer;
Se não fosse a tua ruindade como seria meu padecer? 

Adeus Caturetê nunca mais quero te vê... 


caturetê era o nome de um sitio de propriedade de seo Waldir


O JORNALISTA MARCOS SANTOS FEZ UMA RICA HOMENAGEM E UM RICO REGISTRO SOBRE OS 100 ANOS DE SR. WALDIR AO QUAL TRANSCREVO DE SEU BLOGG

Os 100 anos de Waldir Viana

Passou quase desapercebido, mas, sábado (27/02), mestre Waldir Viana, que Chico da Silva chamou de “Missionário da luz” (ouça essa toada do Caprichoso neste post), completaria 100 anos de idade se vivo estivesse.

"Seo" Waldir sendo homenageado pelo Caprichoso, entre o filho Rai Viana e o apresentador Gil Gonçalves (falando)
Waldir tinha várias lendas ao redor de si. A mais famosa diz respeito a um padre italiano, acidentado, condenado pelos médicos a viver o resto da vida numa cama. Dom Arcângelo Cerqua, então bispo prelado de Parintins, decidiu trazê-lo até “seo” Waldir. Este recolocou as vértebras no lugar e fez esticar o corpo numa barra e o fazia ficar pendurado todos os dias, primeiro segundos, depois minutos e assim o colocou em pé. Reza a lenda que ele voltou andando para sua terra.
Milagres? O povo falava que ele tinha coleção deles.
Conto o que vivi. Estava a caminho dos Jogos Estudantis do Amazonas (JEAs), em 1978, pela seleção de vôlei de Parintins. Numa manhã sem treino, metemos um racha de futsal e eu fui sorteado para goleiro. Pulei numa bola, na entrada da área, e um maluco meteu o bico em cima do meu polegar direito. Quebrou na hora. Havia médicos do Projeto Rondon próximos. Um deles virou para o Elias Moura, nosso técnico, e avisou: “Arranja outro levantador e capitão do time porque esse aqui só vai poder tirar o dedo do gesso daqui a uns três meses”. O campeonato era em 30 dias!
Elias me levou ao “seo” Waldir. Ele colocou o osso no lugar, meteu uma mistura com rinchão (uma erva que dá no campo, em Parintins) e imobilizou com talas, dessas que se usa em papagaio. Amarrou e pediu: “Filho, passa todo dia aqui pra trocar esse curativo. Quero ver se você não vai jogar”. Voltei a treinar uns cinco dias antes da viagem – e Parintins ganhou a única medalha de bronze do interior no vôlei masculino.

Anotação sobre um paciente com a letra do próprio Waldir

Esse é o paciente de que ele fala na anotação acima
Outra coisa: “seo” Waldir não regateava na mentira, quando se tratava de distrair um paciente, antes do tranco com o qual ele colocava o osso no lugar. Numa dessas, contou que o sujeito preparou um cartucho com 23 chumbos e atirou fazendo um zigue-zague com o cano da espingarda, num bando de patos. O cachorro foi buscar de um por um e ele só contando… 20, 21… “Ué, cadê os outros dois?” Olhou para cima e viu os dois patos voando e os chumbos atrás deles… Aí o paciente dava um risada e ele o tranco. A dor estava amenizada.

A humildade era uma marca de "seo" Waldir e não raro ele pegava a bicicleta e ia visitar os seus pacientes nas casas deles
Essa lenda parintinense tem muitas histórias. Estão aí os filhos e netos (Luciano, filho do Waldirzinho, foi quem me mandou estas fotos) para contar como a casa deles vivia cheia de gente, buscando auxílio para os seus males, sem que Waldir Viana recusasse atendê-los. Pagamento em dinheiro? Nem pensar. Ele se ofendia e podia até parar o tratamento se alguém tentasse. Tinha lá suas cabecinhas de gado, seus terrenos e vivia bem disso.
Waldir Viana lembra meu tio Valdir Costa, massagista de Fast, Rio Negro e Nacional, que curou muita gente com essa história de colocar osso no lugar. A família me mata se eu não contar que ele curou o joelho de Jairzinho – ele mesmo, o Furacão da Copa de 1970 – , que estava desenganado para o futebol por causa de um problema no menisco e acabou jogando muito tempo ainda.
Tempos bons aqueles, quando havia uma saudável disputa sobre quem curava mais e melhor os males da nossa vida.
Saudades desses Waldis e Valdis.
           ENCARTE DO SUPLEMENTO: A ILHA-1994 E FAZ PARTE DE MEU ACERVO CULTURAL


O CAPRICHOSO FOI BUSCAR EM TONZINHO SAUNIER A VERDADEIRA ORIGEM DO BOI CONTRÁRIO QUE JAMAIS PODERÁ SER IGNORADA PORQUE SEU REGISTRO É FIDEDIGNO E INCONTESTÁVEL. ESCRITOR DE VÁRIAS OBRAS, ENTRE ELAS: VÁRZEA E TERRA FIRME (CONTOS E CRÔNICAS) E SAUDADE DA SAUDADE (POESIAS)., A LIRA DOS 50 ANOS TONZINHO É TAMBÉM AUTOR DO LIVROS O Magnífico Folclore de Parintins (1989); Obras póstumas:Parintins, Memória dos Acontecimentos Históricos (2003); Encantamentos (contos- obra inédita); Cigana Jandira (romance- inédito);Poemas (inétido).
































SEM QUALQUER SOMBRA DE DÚVIDAS, ESSE HOMEM CABOCLO E SIMPLES É UM DOS PATRIMÔNIOS MORAIS DA ILHA QUE A HISTÓRIA JAMAIS PODE ESQUECER. 


GUARDO-O NA LEMBRANÇA PORQUE DESDE MUITO JOVEM O QUE SEMPRE ME CHAMOU ATENÇÃO  FOI PRODUÇÃO CULTURAL QUE AQUELE POVO DA ILHA SEMPRE ESTAVA DISPOSTO A MATERIALIZAR ESPECIALMENTE NO CAMPO DO FOLCLORE, DA POESIA, DA MÚSICA (EM FESTIVAIS COMO O FECAP-FESTIVAL DA CANÇÃO DE PARINTINS) QUE SÓ DEIXOU DE EXISTIR PARA NÃO CONCORRER COM ITACOATIARA PORQUE SEU NÍVEL DE QUALIDADE MUSICAL SEMPRE FOI ALTO.


SEU NOME DE BERÇO ERA Antonio Pacífico Siqueira Saunier,nasceu no município de Barreirinha, (localidade Santa Marta) Amazonas, a 8 de julho de 1932. Ele dedicou grande parte de sua vida à cultura amazônica, divulgando-a em mais de trezentas crônicas, contos, lendas e mitos. Tonzinho Saunier, o historiador de Parintins, o pesquisador da Amazônia, o poeta da saudade, o antropólogo (profundo conhecedor da vida do caboclo ribeirinho com quem ele viveu e conviveu em suas inúmeras andanças pela floresta). 


"Tonzinho Saunier, um Amazonas verbal" (Paulo José Cunha- jornalista e escritor piauiense) Faleceu em Parintins, a 16 de maio de 1999.

Tonzinho Saunier - Essa história da visita aos Sateré Maués começou quando o pessoal do Boi Bumbá Garantido resolveu convidar os índios a apresentarem suas danças no Festival Folclórico de Parintins. Algumas danças de inspiração indígena já faziam parte da apresentação dos bois bumbás. Na época, o interesse pelas raízes indígenas e por questões ambientais estava cada vez mais forte em Parintins. Eu era o único Engenheiro Florestal da cidade e a turma, principalmente os jovens, estava sempre atrás de informação sobre meio ambiente.


Pois bem, em 1982 o pessoal do Garantido encarregou o Tonzinho Saunier, o historiador e antropólogo da cidade, de ir até a aldeia Sateré Maué ver a dança e convidar os índios. Foi feita a articulação com a Funai, via rádio amador, para saber a data da cerimônia, conseguir a autorização, etc. Tonzinho me convidou para acompanhá-lo. Na verdade, éramos a equipe. 


Alguns meses depois da visita, os Sateré Maués foram a Parintins mostrar suas danças e chegaram a participar do Festival Folclórico.


Além de historiador e antropólogo, Tonzinho era contador e pecuarista. Sua fazenda no Paraná do Ramos é um dos lugares mais lindos que já visitei, com um lago escondido repleto de orquídeas amarelas. Em seu sítio no Macurany, na ilha de Parintins, ele tinha uma rede de fibra que ficava logo em cima de um igarapé e que podia ser baixada para que a pessoa se banhasse na rede. Era possuidor de um muiraquitã, dos verdinhos, encontrado à beira do Lago do Espelho da Lua, em Nhamundá*. Tonzinho era também um gênio da generosidade.


A foto de Andreas Valentin data de 1997, 15 anos depois da visita narrada acima. Tonzinho estava doente e veio a falecer pouco tempo depois.



* sobre muiraquitãs, ver meus posts de 25/8 a 2/9 de 2008
 - Fotolog
A foto de Andreas Valentin data de 1997, 15  anos depois da visita 


narrada acima. Tonzinho estava doente e veio a falecer pouco tempo 


depois.



A pedido do Boi contrário, a fim de 


convencer os indios a apresentarem seu 


ritual na Festa do Boi  Tonzinho fez uma 


visita antropológica aos indios Sateré Maués 


o qual narrou para o jornalista Andréas 


Valetin:




Essa história da visita aos Sateré Maués 


começou quando o pessoal do Boi Bumbá


Garantido resolveu convidar os índios a 


apresentarem suas danças no Festival


Folclórico de Parintins. Algumas danças de 


inspiração indígena já faziam parte da


apresentação dos bois bumbás. Na época, o 


interesse pelas raízes indígenas e por


questões ambientais estava cada vez mais 


forte em Parintins. Eu era o único


Engenheiro Florestal da cidade e a turma, 


principalmente os jovens, estava sempre


atrás de informação sobre meio ambiente.




Pois bem, em 1982 o pessoal do Garantido 


encarregou o Tonzinho Saunier, o


historiador e antropólogo da cidade, de ir até 


a aldeia Sateré Maué ver a dança e


convidar os índios. Foi feita a articulação 


com  a Funai, via rádio amador, para


saber a data da cerimônia, conseguir a 


autorização, etc. Tonzinho me convidou


para acompanhá-lo. Na verdade, éramos a 


equipe.




Alguns meses depois da visita, os Sateré 


Maués foram a Parintins mostrar suas


danças e chegaram a participar do Festival 


Folclórico.




Além de historiador e antropólogo, Tonzinho 


era contador e pecuarista. Sua


fazenda no Paraná do Ramos é um dos 


lugares mais lindos que já visitei, com um


lago escondido repleto de orquídeas 


amarelas. Em seu sítio no Macurany, na ilha


de Parintins, ele tinha uma rede de fibra que 


ficava logo em cima de um igarapé e


que podia ser baixada para que a pessoa se 


banhasse na rede. Era possuidor de


um muiraquitã, dos SAPOS verdinhos, 


encontrado à beira do Lago do Espelho da 


Lua, em Nhamundá*. Tonzinho era também 


um gênio  da generosidade.






AQUI ESTÁ UM POUCO DAQUILO QUE 


SEMPRE OBSERVEI NO POVO 


PARINTINENSE., É PARTE DE SUA 


HISTÓRIA DE VIDA DEIXADA E 
  
TRANSMITIDA POR ESSA RIQUEZA, ESSES 


PATRIMÔNIOS QUE FORAM WALDIR VIANA 


E TONZINHO. UMA RIQUEZA DE VIDA E 


DE HISTÓRIA QUE NÃO É PRÁ QUALQUER 


POVO NÃO. LÓGICO QUE TODO POVO TEM 


HISTÓRIA, MAS A RIQUEZA E O 


DINAMISMO DA RIQUEZA DO POVO 


PARINTINENSE É MUITO GRANDE E 


MOTIVO DE ORGULHO PARA QUALQUER 


CABOCLO ESPECIALMENTE PARA OS 


SEUS DESCENDENTES











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