quinta-feira, 5 de abril de 2012

PÁSCOA E FOLCLORE


JÁ FALAMOS AQUI NO BLOG QUE O FOLCLORE É MUITO MAIS QUE LENDAS E CAUSOS., O FOLCLORE ESTÁ NO DIA-A-DIA DE CADA UM, DE CADA GRUPO FAMILIAR, DE CADA GRUPO SOCIAL QUE VIVAM NA INFORMALIDADE OU DE FORMA ESPONTÂNEA, POIS TODOS NÓS SOMOS PORTADORES DO FOLCLORE.

EM QUALQUER DATA COMEMORATIVA, FAMILIAR, COLETIVA, SEJA FESTEJO DO CALENDÁRIO RELIGIOSO OU CULTURAL., O FOLCLORE PODE ESTAR PRESENTE NA FORMA OU NO JEITO DE COMO UMA FAMÍLIA FESTEJA A PÁSCOA, O NASCIMENTO DE UM NOVO MEMBRO DA FAMÍLIA, O NATAL, O JEITO DE SE TOMAR UM CAFÉ EM FAMÍLIA, NO MERCADO E ASSIM POR DIANTE   DE UMA MANEIRA INFORMAL E ESPONTÂNEA, APRENDIDA SEM INTERFERÊNCIA DA INDÚSTRIA E DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA.

ESTA POSTAGEM ABAIXO FOI COPIADA DO BLOG "PIANO MUSIC" DE PROPRIEDADE DE UMA DAS MAIORES AUTORIDADES EM FOLCLORE DE NOSSO PAÍS, professora NIOMAR SOUZA. NELE, A ILUSTRE PROFESSORA NOS MOSTRA AS CARACTERISTICAS DO EVENTO RELIGIOSO COMO UMA FORMA CULTURAL E FOLCLÓRICA.,  FATOS QUE A IGREJA TAMBÉM RECONHECE E RESPEITA COMO FATO CULTURAL QUE CONTRIBUIU MUITO PARA O PROCESSO DE EVANGELIZAÇÃO DE NOSSO POVO., VEJAMOS:

(www.pianomusic.blogspot.com). 

COM TODA PROPRIEDADE E CONHECIMENTO QUE A MESMA POSSUI, ELA NOS MOSTRA COMO É A: "SEMANA SANTA E PÁSCOA NO FOLCLORE BRASILEIRO - Tempo mágico, cheio de “coisas proibidas e coisas que dão sorte!”


QUARESMA



Antes de falarmos na Semana Santa, vamos lembrar a quaresma, tempo intermediário entre o carnaval e a Páscoa. Quaresma, período de penitência para católicos e ortodoxos, marcado por tabus e proibições, dura 46 dias a partir da 4ª feira de cinzas até o domingo da Ressurreição. Há notícias desta tradição desde o século III.

Na quaresma acontece uma notável expressão do catolicismo-folclórico chamada Recomenda de Almas, Encomendação das Almas ou Penitentes. Constitui grupos de pessoas que cumprem um ritual no qual se articulam significados religiosos, mágicos e simbólicos a partir do conceito alma dos mortos na visão popular. Nas sextas feiras da quaresma, tarde da noite, no silêncio e na escuridão, culminando na sexta feira da Paixão, estes grupos percorrem casas, igrejas (fechadas nessa hora), cemitérios, cruzeiros ou capelinhas de beira de estrada, pedindo orações para as almas perdidas, por meio de uma cantoria específica. Geralmente são almas de pessoas que não tiveram morte natural como os assassinados, queimados, os afogados – estes, “as almas das ondas do mar”. Em alguns grupos os componentes, que podem ser homens e mulheres, cobrem o corpo com um lençol branco simbolizando a mortalha. Quando cantam diante de uma residência, os habitantes não devem acender as luzes, abrir portas ou janelas nem se comunicar com os cantores pois correm o risco de ver as almas penadas que os acompanham.

AQUI CABE UM COMENTÁRIO SOBRE ESTE FATO FOLCLÓRICO: Minha tia Quitéria conta muitas histórias dos encomendadores de almas de Parintins quando esta era criança e revela todo o seu medo desses personagens. As crianças não entendiam muito bem seu real significado e e sentiam um verdadeiro pavor dos mesmos.


A matriz das Recomendas de Almas está no culto aos mortos presente nos ritos funerários de culturas ancestrais que com o advento do cristianismo foram reinterpretados de acordo com as normas da Igreja. 

A música vocal é uma harmonia composta de várias vozes, às vezes até sete, em estilo responsorial. E o acompanhamento instrumental é feito com matracas, algumas vezes com o zumbidor também chamado berra-boi. Este é um pequeno artefato retangular achatado construído de madeira, cerâmica ou pedra que, amarrado na ponta de um barbante e girado no ar sobre a cabeça do executante (um aerofone livre, portanto) produz um som forte, insistente e perturbador. É conhecido desde culturas muito antigas e nos mais diferentes lugares, como Austrália, Europa, África, índios sulamericanos. Curioso é que é sempre proibido às mulheres ouví-los e mais ainda, manuseá-los.

SEMANA SANTA

Ao lado das cerimônias oficiais promovidas pela Igreja católica, encontram-se, com muito vigor, os rituais e costumes espontâneos da Semana Santa praticados no contexto da cultura popular-folclórica. São um conjunto complexo de elementos que resultam da reinterpretação popular dos textos evangélicos e de conceitos europeus anônimos surgidos em algum momento da Idade Média. Por exemplo, no século VIII a Igreja proibiu os cristãos de tocar sinos (e músicas profanas) da 5ª feira ao sábado de Aleluia. Sugeriu que os substituíssem batendo pequenos pedaços de madeira como faziam os fiéis escondidos nas catacumbas quando não possuíam sinos e eram perseguidos pelos soldados romanos. Essa teria sido a origem das matracas que se tornaram instrumentos oficiais da Semana Santa.

Dentre os rituais folclóricos da Semana Santa podemos observar as grandes procissões: a do Enterro, cheia de figuras bíblicas, a das Dores que é o encontro de Nossa Senhora com o Filho, aquelas chamadas Fogaréu, onde se conduzem tochas acesas para simular a procura de Jesus para que seja preso, e outras – organizadas pelo povo, não pela Igreja. Da mesma forma, as representações teatrais da Paixão de Cristo efetuadas pelas coletividades por iniciativa própria.

PROCISSÃO DO FOGARÉU EM GOIÁS

Há um grande número de proibições, crendices e práticas mágicas. Jejum sexual é das proibições mais generalizadas. Outras: não casar, não fazer festa, não bater em crianças, não trabalhar. Para dar sorte: visitar sete igrejas; guardar as flores que enfeitarem o esquife do Senhor Morto na procissão do Enterro; comprar aneizinhos e correntes de prata na 6ª feira da Paixão. 

PÁSCOA



A Páscoa é pré-cristã e provém do costume pagão muito antigo de comemorar a entrada da primavera no hemisfério norte, coincidindo com o equinócio de primavera, quando termina o longo e rigoroso inverno e retorna o calor, o sol, a vegetação; os coelhos saem das tocas e são vistos pulando pelos campos. A vida se renova.

O Antigo Testamento descreve a pessach que é a passagem da escuridão para a luz (a Páscoa), festa que comemora a libertação, por Moisés, do povo hebreu escravizado pelo faraó do Egito. É a conhecida estória das sete pragas enviadas por Deus, a fuga dos hebreus e a abertura do mar Vermelho para permitir sua passagem. 

A Páscoa cristã, já como ritual do Novo Testamento, não é mais do que a reinterpretação daquele episódio: a ressurreição de Cristo é o símbolo da libertação dos hebreus ou a passagem da escuridão para a luz; a óstia é o pão ázimo (sem fermento – na fuga dos hebreus não havia tempo para esperar a massa fermentar) e torna-se metáfora do corpo de Cristo; o vinho, tradicional da ceia dos hebreus, significa o sangue de Cristo – tudo representado na missa da Páscoa e nas missas tradicionais da cristandade.

Em inglês a Páscoa chama-se easter, derivado de Eostre, deusa germânica da fertilidade, celebrada no equinócio da primavera com seu símbolo o coelho.

Na Escócia a Páscoa é conhecida como Paiss.

O COELHO



O coelho, em muitos países, é o totem da Páscoa porque simboliza a fertilidade (reproduz-se muito), vale dizer, o recomeço da vida. No hemisfério norte, no início da primavera,o animalzinho saía das tocas onde passara o inverno e passava a saltitar pelos campos. Como símbolo pascal, foi trazido ao Brasil pelos imigrantes alemães cerca do século XVIII. Em alguns lugares o coelho é substituído, como em Paris por exemplo,que se encontra a galinha da Páscoa. 

O ovo contém em si uma vida nova. A ressurreição, portanto. Em muitas culturas antigas, como na chinesa,nas cortes francesas no século XVIII, etc., tinha esse significado e ovos de ouro e pedras preciosas eram dados como presente a pessoas importantes.

A DATA DA PÁSCOA 

A Páscoa é uma festa móvel anual cuja data é referência para se estabelecer as outras datas festivas. A primavera no hemisfério norte tem início no dia do equinócio de primavera: 21 de março. No primeiro domingo de lua cheia a partir de 21 de março, a cada ano, comemora-se a Páscoa. Este calendário obedece a uma tabela lunar estabelecida por um astrônomo grego chamado Meton, em 430 antes de Cristo. Meton tabulou um ciclo de 19 anos solares e 235 meses lunares chamado Número Áureo que estabelecia o ano com 365 dias aproximados. Pela relativa precisão e praticidade, foi utilizado nos cômputos eclesiásticos.
Tendo como referência a Páscoa, determinam-se o carnaval, 46 dias antes, e Pentecostes, 50 dias depois.

A QUEIMA DE JUDAS


Provém do rito ancestral do Fogo Novo, de origem hebraica que sobreviveu no rito romano recodificado. O Fogo Novo comemorava festivamente o fim do inverno no hemisfério norte quando as comunidades acendiam grandes fogueiras ao lado dos templos e os sacerdotes benziam o fogo. Geralmente rapazes saíam em bandos gritando : “Fogo Novo!”

A igreja cristã adaptou o ritual pré-cristão aos seus desígnios, primeiro denominando-o de Fogo de Judas e depois induzindo a queima do boneco que simulava o traidor de Jesus. É uma prática encontrada em quase toda a Europa.

Leituras sobre este texto: Uma leitura transdisciplinar do fenômeno sonoro (Sobre Recomenda de Almas) de Sonia Albano (org); Folclore das festas cíclicas, de Rossini Tavares de Lima 

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